domingo, 20 de maio de 2012

Meu conto de fadas.


Era uma vez uma criança nascida em berço de ouro.  Uma princesa. E como já é de se saber, princesas possuem Rei e Rainha como pais. É prometida a um príncipe encantado, e seu final é ser feliz para sempre. (...) Isso é muito clichê, e disso todo mundo já sabe. O que ninguém sabe é que princesas adolescentes brigam com os pais. TPM faz nascer espinha até mesmo em seres sublimes. Ninguém vê que até o príncipe encantado chegar, beijam-se muitos sapos errados.
Que me perdoem a arrogância, mas vim aqui contar do meu conto de fada. Me julguem se acharem que devem. Sou sim princesa. Pergunte ao meu pai se tens dúvida. Ele vai logo dizer algo sobre a “princesinha” que tem.  Nasci sim em berço de ouro. Meu pai foi um rei autoritário. Para deixar o castelo, ( lê-se: ir para balada), tive que ludibriar soldados, pular muralhas e quase lutar contra dragões. E se dependesse de tal rei, meus vestidos seriam tão grandes quanto são de fato os vestidos de reais princesas dos mágicos contos de fada.  A princesa aqui, vivia em pé de guerra com a Rainha, que de primeira mão aguentou todos os ataques súbitos da adolescência, não da forma que talvez eu gostaria. Não com tanto carinho quanto esperava. Mas não a julguem por isso. Não agora.
Sempre procurei fazer do meu reino o mais encantado, de tudo fazia para que realmente fosse. Mal eu sabia que a realidade assustava quando chegava. E quando no meu reino chegou, fez desastre. Rei e Rainha, não viveriam mais no mesmo castelo.
Como princesa, fui educada pra não errar. E desde pequena criaram a tal princesa coração de pedra, que uns por ai julgam a me chamar de tal apelido. Meu Rei não me permitia erros, pois este gritava não errar NUNCA. Fui criada para ser rainha, errar nunca me foi permitido. Até que um dia ele, o grande rei, errou. Errou tão feio que desejei ser só plebeia. Desejei não ter criado meu mundo encantado. Não ter feito do meu pai um rei, um herói, e apenas um homem.  Mas foi ai que minha Rainha apareceu e como nunca imaginei se mostrou forte que nunca parecia que fosse. E minha mãe não me deixou perder meu conto de fada, e nem me esquecer de que de fato princesa sou.
Mas o que ficou o que é, o que sou, nada mais que uma menina, mulher, garota, dê o nome que queria dar, que cresceu aprendendo a ser forte, a não errar. Já disse, errar nunca foi permitido, e desculpas não foram ensinadas. Desde cedo ter a letra bonita da escolinha, ter a nota boa em matemática. Não perder os jogos do esporte predileto. Passar no curso técnico que o Rei sempre sonhou. Ajudar a educar o irmão. Ser exemplo. Perfeccionista. Crítica. Ser cruel às vezes. Autoritária, por que ser criada no regime autoritarista me fez uma seguidora fiel de tal regime. E não chorar por amor.  Não chorar ... N U N C A.
Há quem leia todas essas palavras e jurem ser uma história triste. Longe disso. Meu conto de fada além de encantado é REAL. Por que eu vivo agora e meu “feliz para sempre” se dá a cada dia que me é permitido viver. Sou sim a princesa coração de pedra como chamam uns, coração de gelo como preferem outros. Prefiro assim, sem errar, com letra bonita em cartas que nunca foram enviadas aos seus destinatários. Controlando sem ser controlada. Fria.
Por que ninguém derreteu tal coração. Ninguém destruiu a casca de pedra. Minto, conseguiram uma vez, e hoje ainda não consigo dizer se valeu realmente a pena. E ninguém mais.Talvez por falta de competência, talvez por falta de autorização. Mas ouvi dizer nos contos clichês que sempre li por aí, que de autorização não é preciso. Ouvi também que amor vem com dor. Não na mesma proporção, mas na proporção que seja, AGORA, dor não quero não. Por que pra mim ainda é opção de escolha. Possa não ser talvez um dia.
                Até lá sou eu enchendo de muros e soldados meu castelo, colocando meu coração de pedra gelada dentro de uma caixinha bonita, trancada a sete chaves, dentro da torre mais alta. Protegido por magias de fadas. Me contaram que o nome disso é maturidade. Outros cochicharam que o nome é medo. Bom, seja o que for. Assim, por enquanto, me parece melhor.
E que um dia se permita o erro, se permita o choro, que se pronunciem desculpas. Que a dor do amor me corte que o amor me cure. Enquanto isso sou eu controlando até que me façam um dia perder o controle. E que talvez a verdade seja que eu não queira um coração roubado. Quero um coração conquistado.
E assim vou seguindo feliz. Até o final.

6 comentários:

  1. Não importa se você escreve uma carta e não a envia, se planeja detalhadamente algo e não o torna real, se sente tristeza dentro de si e demonstra felicidade. O sentido que o fato teria se fosse levado para o plano real teve exito, pois te despertou algum sentimento. É o mesmo que ir para o ponto de ônibus desejando que o ônibus esteja vazio, a sensação de estar sentada no ônibus mesmo que seja pela sua imaginação causa o mesmo sentimento que se você estivesse de fato sentada.
    Você não é fria, nem tem o coração de pedra pelo que li aqui. Frieza é próprio de pessoas que não sentem, quem sente mas não demonstra é outro adjetivo. Classifique como medo,cautela, ou qualquer outra coisa que te faça sentir confiante, mas fria você não é.

    Ps:Cai no seu blog por acaso e gostei, se meus atuais e possíveis comentários a incomodam é só falar que eu paro.

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  2. Não acho que eu não demonstre. Até por que transparência ao meu ver, é o meu pior defeito. Queria esconder muita coisa que não consigo.
    Medo, talvez, mas nao para me trazer confiança, mas por EU, nao confiar em ninguém. Confio em mim, mas desconfio dos outros :)

    E de forma alguma me incomoda.;)

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  3. Desculpa, minha intenção não era incomodar.
    Me vi um pouco em você e resolvi comentar :)

    Meu ultimo comentário então :
    Não sei aonde você mora, mas eu moro no sul do pais, e aqui tem época que faz muito frio.
    Um dia eu tava andando na rua e vi um cachorro encolhido com frio.
    Parecia um cachorro de raça, parecia uma mistura de labrador com alguma outra raça ai.
    Quando me aproximei dele ele nem latiu.
    Peguei ele e levei pra minha casa.Cuidei dele e hoje ele continua do meu lado(caducando ja coitado) faz 10 anos.
    Se ele tivesse latido, ou desconfiado de mim, ele provavelmente estaria morto. Se eu não confiasse em pega-lo e trata-lo, provavelmente hoje eu estaria sem um grande amigo. Confiar em você fácil, mas a alegria da vida está em confiar nos outros. :)

    Até nunca mais Laura Diniz :)

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  4. Abiguinha, eu vou concordar com esse cara...

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  5. Anônimo, disse no primeiro comentário, que seus comentários não me incomodaram.

    Nunca disse que não confio em ninguém, só não confio em qualquer um (a). A alegria pode estar em muitas coisas, o problema das pessoas é criar um rótulo para felicidade.


    Até Anônimo.

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  6. Amei!
    Embora veja dor e sofrimento, vejo tb maturidade!

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